O processo saúde-doença e a dependência química

07/05/2025

O processo saúde-doença e a dependência química

Por Elisângela Maria Machado Pratta e Manoel Antonio dos Santos

            O artigo publicado na revista Psicologia: Teoria e Pesquisa, oferece uma análise abrangente sobre a inter-relação entre saúde, doença e dependência química, destacando a evolução histórica dessas concepções e suas implicações no tratamento e na promoção da saúde.

Inicialmente, os autores abordam como, ao longo da história, as percepções sobre saúde e doença transitaram de explicações sobrenaturais para interpretações naturais e, posteriormente, sociais. Esse percurso influenciou diretamente a forma como a sociedade compreende e lida com a dependência de substâncias psicoativas. Na Antiguidade, por exemplo, o uso de drogas estava associado a rituais religiosos e práticas medicinais, sendo considerado uma ferramenta para alcançar estados alterados de consciência ou cura. Com o advento do modelo biomédico, especialmente a partir do século XIX, houve uma ênfase na objetividade e na busca por causas orgânicas das doenças, o que levou à marginalização de aspectos subjetivos e sociais do adoecimento, incluindo a dependência química.

O artigo destaca que, durante muito tempo, a dependência de drogas foi tratada como uma questão moral ou de desvio de caráter, resultando em abordagens punitivas e exclusão social dos adictos. Somente a partir da segunda metade do século XX é que se iniciou uma mudança de paradigma, reconhecendo a dependência química como um transtorno mental complexo, influenciado por fatores biológicos, psicológicos e sociais. Essa nova perspectiva culminou na adoção do modelo biopsicossocial, que propõe uma visão holística do indivíduo, considerando-o em sua totalidade e inserido em um contexto socioeconômico e cultural específico.

Nesse contexto, os autores enfatizam a importância de políticas públicas que promovam a saúde e previnam o uso abusivo de substâncias, indo além do tratamento clínico e abordando determinantes sociais como pobreza, desigualdade e exclusão. A criação de serviços específicos, como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), é citada como um avanço na tentativa de oferecer um cuidado mais humanizado e integrado aos adictos.

Em conclusão, Pratta e Santos argumentam que a compreensão e o enfrentamento da dependência química exigem uma ruptura com modelos reducionistas e a adoção de abordagens que reconheçam a complexidade do fenômeno. Isso implica em considerar o adicto como sujeito ativo no processo de cuidado, valorizando sua história, experiências e contexto de vida, e promovendo intervenções que integrem aspectos biológicos, psicológicos e sociais.

O artigo contribui significativamente para o debate sobre a dependência química, oferecendo uma análise crítica das práticas históricas e propondo caminhos para uma abordagem mais eficaz e humanizada no tratamento e na promoção da saúde.

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