O Vício Mora ao Lado (Four Good Days)
03/05/2025

Por Raique Almeida
Dirigido por Rodrigo García e baseado em uma história real relatada em artigo de Eli Saslow para o Washington Post, o filme O Vício Mora ao Lado apresenta uma tocante e dolorosa jornada de uma jovem mulher lutando contra a dependência química, ao mesmo tempo em que busca reconstruir a relação com sua mãe. Protagonizado por Mila Kunis e Glenn Close, o longa mergulha profundamente no drama familiar, na devastação causada pelo vício em opioides e na difícil reconstrução de confiança.
A trama acompanha Molly (Mila Kunis), uma mulher de 31 anos que, após anos de uso abusivo de heroína e outras drogas, tenta mais uma vez se recuperar. Desesperada por ajuda, ela bate à porta da mãe, Deb (Glenn Close), de quem está afastada há muito tempo. Deb, por sua vez, é uma mulher marcada pelas mentiras, frustrações e fracassos das tentativas anteriores de ajudar a filha. No entanto, decide dar mais uma chance à filha quando está se compromete a iniciar um tratamento de bloqueio de opioides com a substância antagonista, mas para isso precisa ficar limpa por quatro dias daí o título do filme.
O filme se destaca por sua abordagem realista e sensível, evitando romantizações do vício. A dependência química é mostrada como uma força destrutiva que corrói relações, destrói sonhos e transforma o amor em desconfiança. Ao mesmo tempo, a história não deixa de mostrar a resiliência de quem ama e se recusa a desistir, mesmo depois de inúmeros tropeços. Glenn Close entrega uma performance comovente e contida, encarnando uma mãe ferida, mas ainda esperançosa. Mila Kunis, transformada fisicamente para o papel, oferece uma atuação crua e intensa, dando vida à fragilidade e à dor de uma mulher que já perdeu quase tudo mas ainda quer se recuperar.
A tensão do filme gira em torno desses quatro dias: cada hora é um desafio, cada recaída uma possibilidade, cada pequeno gesto de confiança uma conquista. A convivência forçada entre mãe e filha reabre feridas antigas, mas também cria espaço para reconexão e cura. O roteiro não oferece soluções fáceis e faz questão de mostrar que o vício não é apenas uma questão de força de vontade, mas uma condição complexa, com raízes emocionais, biológicas e sociais profundas.
Além do drama pessoal, O Vício Mora ao Lado dialoga com a epidemia de opioides que assola os Estados Unidos há décadas, uma crise de saúde pública que tem destruído famílias e ceifado milhares de vidas. Ao focar em um caso individual, o filme humaniza as estatísticas e convida o espectador a refletir sobre a complexidade da recuperação e a importância do apoio familiar.
Em suma, O Vício Mora ao Lado é um drama potente, duro e necessário. Com interpretações marcantes e uma direção sensível, o filme oferece não apenas um retrato comovente da luta contra a dependência, mas também um apelo à empatia e à persistência. Uma história que mostra que, por mais distante que pareça a recuperação, ela pode começar com apenas quatro dias e o amor de alguém disposto a esperar por eles.