Obesidade e Dependência: Um Estudo sobre o Papel das Drogas Lícitas e Alimentos Ultraprocessados

05/08/2025

Obesidade e Dependência: Um Estudo sobre o Papel das Drogas Lícitas e Alimentos Ultraprocessados

Por Raique Almeida

            A obesidade tem se consolidado como um dos maiores desafios de saúde pública do século XXI. Paralelamente, observa-se o aumento do consumo de substâncias lícitas, como álcool, nicotina e alimentos ultraprocessados, que, embora socialmente aceitos, compartilham características neuroquímicas com drogas ilícitas, provocando efeitos semelhantes no sistema de recompensa do cérebro.

            O consumo de substâncias como álcool e cigarro está associado a alterações no apetite, na saciedade e no metabolismo, podendo contribuir para quadros de obesidade ou desnutrição. A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2020) alerta que o uso abusivo de álcool, por exemplo, está diretamente relacionado ao aumento de gordura abdominal e ao risco de doenças metabólicas. Além disso, estudos demonstram que pessoas com histórico de uso de substâncias psicoativas tendem a desenvolver comportamentos compulsivos com a alimentação, como a busca constante por alimentos ricos em gordura, açúcar e sal (PELATTI et al., 2021).                 

            Os alimentos ultraprocessados são formulações industriais com adição de conservantes, corantes, açúcares, gorduras e aditivos químicos. Segundo Monteiro et al. (2018), esses produtos não apenas promovem a obesidade, mas possuem efeitos similares aos das drogas no cérebro humano, ativando o sistema dopaminérgico e gerando sensações de prazer e bem-estar momentâneo. Isso contribui para um ciclo de compulsão, no qual o indivíduo consome repetidamente tais produtos em busca de conforto emocional. A publicidade agressiva, o baixo custo e a praticidade também são fatores que potencializam o consumo dessas substâncias alimentares viciantes, especialmente entre as populações mais vulneráveis.

            A dependência, seja ela química ou alimentar, está relacionada a fatores sociais, emocionais e econômicos. De acordo com Bauman (2001), vivemos em uma sociedade líquida, marcada pela fragilidade dos vínculos, pela busca constante de satisfação imediata e pela medicalização do sofrimento. Nesse cenário, tanto o uso de drogas lícitas quanto o consumo de alimentos ultraprocessados tornam-se estratégias de enfrentamento emocional, muitas vezes incentivadas por uma lógica de mercado que lucra com o vício e o adoecimento.

            A interseção entre obesidade e dependência química não pode ser ignorada. É urgente compreender que o consumo abusivo de alimentos ultraprocessados e drogas lícitas não é apenas uma escolha individual, mas uma questão de saúde coletiva, atravessada por fatores econômicos, culturais e psicológicos. Políticas públicas de prevenção, educação alimentar e regulação da indústria são essenciais para romper com esse ciclo de adoecimento. Além disso, é fundamental promover o cuidado integral, que considere não só o corpo, mas também os afetos, as emoções e o contexto social dos sujeitos.

Referências

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

MONTEIRO, Carlos A. et al. Alimentos ultraprocessados: definição e impacto na saúde. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 52, 2018.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Relatório mundial sobre obesidade. Genebra, 2020.

PELATTI, Larissa A. et al. Comportamento alimentar e dependência: aproximações entre comida e drogas. Cadernos de Saúde Pública, v. 37, n. 2, 2021.

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