Cogumelos Psicoativos: Potenciais Psicodélicos e Riscos à Saúde Humana

03/08/2025

Cogumelos Psicoativos: Potenciais Psicodélicos e Riscos à Saúde Humana

Por Raique Almeida

            Os cogumelos psicoativos, especialmente os do gênero Psilocybe, têm sido utilizados há séculos por diversas culturas em rituais religiosos e experiências místicas, principalmente pela presença de compostos como a psilocibina e a psilocina. Esses alcaloides indólicos atuam no sistema nervoso central ao interagir com receptores serotoninérgicos, especialmente o 5-HT2A, gerando alterações significativas na percepção, humor e cognição do usuário. Nos últimos anos, observou-se uma retomada do interesse científico em relação ao potencial terapêutico desses cogumelos, notadamente em contextos controlados e com supervisão médica, como no tratamento de depressão resistente, ansiedade e transtornos do uso de substâncias.

            Apesar dos apontamentos sobre benefícios terapêuticos, o uso recreativo e indiscriminado desses fungos pode acarretar consequências prejudiciais à saúde. A psilocibina, quando ingerida sem controle de dosagem, pode desencadear episódios de ansiedade aguda, pânico, paranoia e psicose temporária, especialmente em indivíduos predispostos a transtornos mentais. Além disso, a variação na concentração dos compostos ativos nos cogumelos silvestres torna o consumo imprevisível, o que amplia os riscos toxicológicos e psicológicos. Segundo Lima e colaboradores (2021), o uso desregulado de substâncias psicodélicas pode induzir estados dissociativos intensos e, em casos extremos, provocar alterações duradouras no funcionamento psíquico do indivíduo.

            A Organização Mundial da Saúde não reconhece atualmente os cogumelos psilocibinos como medicamentos, e em diversos países, incluindo o Brasil, eles são classificados como substâncias proibidas, conforme determina a Portaria nº 344/1998 da Anvisa. Nesse sentido, o consumo dessas substâncias fora de ambientes clínicos seguros deve ser encarado com cautela, pois os efeitos adversos podem ultrapassar o tempo da experiência psicodélica, impactando o equilíbrio neuroquímico e a saúde mental a longo prazo. Como afirmam Araújo e Rodrigues (2020), a crescente popularização de práticas de autoconhecimento via psicodélicos pode mascarar os riscos reais de danos psicológicos e físicos.

            Ademais, há relatos de intoxicações graves por confusão entre cogumelos psicoativos e espécies altamente tóxicas, como os do gênero Amanita, o que evidencia o risco da automedicação ou do consumo recreativo sem o devido conhecimento micológico. O manejo seguro dessas substâncias requer políticas públicas pautadas em evidências científicas e estratégias de educação em saúde. Em suma, embora os cogumelos psicodélicos revelem potenciais terapêuticos promissores em pesquisas clínicas controladas, seu uso recreativo ou sem supervisão representa uma ameaça significativa à saúde pública e individual.

Referências

ARAÚJO, Maria Clara; RODRIGUES, Felipe. Psicodélicos e autoconhecimento: entre promessas e riscos do uso recreativo. Revista Brasileira de Psicologia, v. 9, n. 1, p. 45-60, 2020.

BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Portaria nº 344, de 12 de maio de 1998. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 1998.

LIMA, Rafael S.; FONSECA, Juliana M.; GUIMARÃES, Ricardo B. Psilocibina e os limites terapêuticos dos psicodélicos: uma revisão crítica. Cadernos de Saúde Mental, v. 15, n. 2, p. 89-103, 2021.

Blog

Informações sobre prevenção, tratamento e recuperação da dependência química e alcoolismo

Este site usa cookies do Google para fornecer serviços e analisar tráfego.Saiba mais.