Paternidade e Recuperação: O Desafio e a Esperança de Pais em Processo de Superação da Dependência

10/08/2025

Paternidade e Recuperação: O Desafio e a Esperança de Pais em Processo de Superação da Dependência

Por Raique Almeida

            A paternidade é um papel social e afetivo de profunda responsabilidade, capaz de transformar a vida de um homem de maneira significativa. No entanto, quando a experiência de ser pai se entrelaça com a realidade da dependência química, surgem desafios que, embora complexos, também podem se tornar pontos de partida para um processo profundo de reconstrução pessoal e familiar. A dependência química, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2019), é uma condição crônica que afeta não apenas o indivíduo, mas também sua rede de relações, sendo a família uma das mais impactadas. Ainda assim, o vínculo com os filhos pode atuar como um poderoso motivador para a mudança, despertando no pai o desejo de superar o vício e ressignificar sua história.

            Para muitos homens, o nascimento ou a presença de um filho funciona como um marco emocional capaz de provocar reflexões sobre hábitos e escolhas de vida. Como destaca Carl Rogers (1997), a motivação para o crescimento pessoal é impulsionada pelo encontro com valores autênticos e relações significativas. Nesse sentido, a relação pai-filho pode oferecer ao dependente químico um horizonte de sentido, fortalecendo seu compromisso com a recuperação. Mais do que a luta contra a substância, trata-se de uma jornada em direção ao reencontro consigo mesmo e com a essência de amar e cuidar.

            A vivência da paternidade na recuperação também exige um olhar compassivo sobre a própria trajetória. Leonardo Boff (2000) lembra que o cuidado é um ato de amor que começa consigo próprio, para então se estender ao outro. Um pai que busca tratamento e se empenha em manter-se sóbrio não apenas cuida de sua saúde, mas constrói um ambiente seguro e afetuoso para o desenvolvimento emocional dos filhos. O amor paterno, nesse processo, manifesta-se tanto nos gestos concretos de proteção e presença quanto no exemplo de resiliência diante das adversidades.

            O caminho para a recuperação pode incluir acompanhamento terapêutico, participação em grupos de apoio e fortalecimento de vínculos familiares, práticas que, segundo Brasil (2021), aumentam as chances de manutenção da sobriedade. Nesse percurso, cada conquista, por menor que pareça, simboliza um passo em direção a uma paternidade mais plena e consciente. A construção de uma nova narrativa pessoal, livre do peso da dependência, reforça a autoestima e reafirma ao pai e aos filhos que a mudança é possível.

            Em última instância, ser pai e estar em recuperação é viver um processo de dupla transformação o homem que se liberta do vício renasce como um pai mais presente e amoroso, enquanto a criança cresce cercada pelo exemplo de coragem e superação. Assim, a paternidade não se limita a prover, mas a inspirar mostrando que, mesmo diante de desafios profundos, o amor pode ser o fio condutor de uma vida renovada.

Referências

BOFF, Leonardo. Saber cuidar: Ética do humano – compaixão pela terra. Petrópolis: Vozes, 2000.

BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional sobre Drogas. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2021.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Classificação Internacional de Doenças – CID-11. Genebra: OMS, 2019.

ROGERS, Carl. Tornar-se pessoa. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

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