Rumo à Sobriedade: Estratégias para Superar a Dependência Química
05/07/2025

Por Raique Almeida
A dependência química é uma condição que impõe sofrimento profundo e progressivo ao indivíduo, afetando não apenas seu corpo e mente, mas também suas relações e projetos de vida. Sair desse estado é possível, embora demande esforço, comprometimento e enfrentamento. A mudança só ocorre, na maioria das vezes, quando os prejuízos já são evidentes perdas afetivas, afastamento da família, deterioração da saúde, estagnação social e profissional. Esses fatores frequentemente funcionam como gatilhos para a tomada de decisão rumo à recuperação.
O primeiro passo necessário é a construção de uma rede de apoio sólida. Essa rede deve ser composta por pessoas que não utilizem substâncias psicoativas e que compreendam os mecanismos da adicção, oferecendo incentivo e orientação prática. Apoiar-se exclusivamente em vínculos frágeis ou com pessoas que também consomem tende a ser ineficaz e até prejudicial. Por isso, a participação em grupos como os de mútua ajuda e a busca por apoio especializado são recomendadas.
O acompanhamento profissional é essencial nesse processo. Um terapeuta com experiência em dependência química pode auxiliar na identificação de padrões de autossabotagem, no enfrentamento de gatilhos emocionais e no desenvolvimento de estratégias mais saudáveis de lidar com a realidade. O trabalho terapêutico ajuda a transitar do padrão de comportamento disfuncional caracterizado por evitação, negação e impulsividade para uma postura mais consciente e construtiva, baseada em escolhas responsáveis e no autocuidado.
Além disso, a inserção em grupos de apoio voltados a pessoas em recuperação permite a partilha de experiências e a construção de pertencimento. O convívio com indivíduos que superaram etapas importantes do processo fortalece a motivação, amplia o repertório de enfrentamento e reduz o sentimento de isolamento. Esses espaços promovem escuta, acolhimento e trocas significativas, favorecendo a permanência no caminho da abstinência.
Outro aspecto importante da recuperação é a definição de metas pessoais. Estabelecer desafios saudáveis como praticar atividade física, retomar os estudos, buscar qualificação profissional ou organizar a rotina contribui para restaurar a autoestima e o senso de propósito. Pequenas conquistas cotidianas reforçam a ideia de progresso e deslocam o foco da obsessão pelo consumo para o investimento na própria evolução.
Por fim, é fundamental celebrar as conquistas, por menores que sejam. Comemorar períodos de abstinência, compartilhar aprendizados com familiares e amigos, reconhecer avanços no tratamento e nos hábitos de vida são atitudes que reforçam o engajamento e estimulam a continuidade do processo. A valorização das vitórias individuais fortalece o vínculo com a nova identidade construída longe da dependência.
A recuperação é um caminho possível. Exige decisão, persistência e disposição para encarar os desafios que surgem. Quando o indivíduo deixa de fugir da sua realidade, enfrenta sua condição e passa a trilhar novos rumos com clareza e autonomia, é possível construir uma vida com sentido, saúde e liberdade.
Referências:
FREITAS, Eulália M. de; SILVA, João P. da. Adição: uma leitura psicodinâmica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2011.
KURTZ, Eduardo. Intervenção breve: uma abordagem motivacional para prevenção e tratamento do uso de álcool e drogas. Porto Alegre: Artmed, 2005.
OLIVEIRA, Maria Ignez Costa de. Reabilitação do dependente químico: teoria e prática. São Paulo: Roca, 2012.