Neurose de Abandono e Esquemas de Rejeição: Compreendendo os Impactos Emocionais e suas Raízes

11/07/2025

Neurose de Abandono e Esquemas de Rejeição: Compreendendo os Impactos Emocionais e suas Raízes

Por Raique Almeida

            A neurose de abandono e o sentimento de rejeição são temas amplamente discutidos dentro da psicologia contemporânea. Esses fenômenos emocionais costumam ter raízes profundas na história de vida dos indivíduos, sendo frequentemente associados a experiências precoces de perda, negligência ou instabilidade nos vínculos afetivos. Na perspectiva da Terapia do Esquema, proposta por Jeffrey Young, esses sentimentos fazem parte do chamado "domínio da desconexão e rejeição", que inclui esquemas como abandono, desconfiança, abuso, privação emocional, vergonha e isolamento social (Young, Klosko & Weishaar, 2008).

            O esquema de abandono, por exemplo, manifesta-se como uma expectativa constante de que as pessoas significativas irão se afastar ou encerrar a relação a qualquer momento. Essa expectativa é internalizada geralmente a partir de vivências como divórcio dos pais, morte de figuras importantes ou situações em que a criança foi deixada sozinha ou negligenciada. Mesmo que o abandono não tenha ocorrido de forma objetiva, a percepção da criança pode ter registrado aquela experiência como tal, o que é determinante para o desenvolvimento do esquema (Cordioli, 2018).

            Já o esquema de desconfiança ou abuso refere-se à crença de que os outros irão, inevitavelmente, prejudicar, enganar ou humilhar o indivíduo. Frequentemente, esse esquema origina-se em histórias de abuso físico, emocional ou sexual, ou ainda em relações marcadas por traições e humilhações durante a infância. As consequências desses esquemas podem ser severas, gerando comportamentos defensivos ou mesmo agressivos, como formas de antecipação à possível dor da rejeição.

            Outro aspecto relevante é o esquema de defectividade e vergonha, no qual o indivíduo sente-se inaceitável, feio ou socialmente inadequado. A origem geralmente está em experiências de crítica excessiva, rejeição explícita ou comparações desvalorizastes, sobretudo por parte de figuras de autoridade como pais e professores. A forma como os adultos se comunica com as crianças é crucial. Expressões que atacam a identidade da criança como "você é burro" ou "você é feio" podem ser internalizadas como verdades imutáveis, dificultando, na vida adulta, o desenvolvimento de uma autoestima saudável (Knapp & Beck, 2009).

            Há ainda o esquema de isolamento social, no qual a pessoa acredita que é fundamentalmente diferente dos outros, como se não pertencesse a nenhum grupo. Essa sensação de exclusão pode surgir quando a criança cresce em contextos onde suas características pessoais, culturais ou sociais são desvalorizadas ou ignoradas. A sensação de não pertencimento pode ser tão intensa que impede a formação de vínculos e a participação em ambientes sociais, mesmo quando há desejo de conexão.

            As respostas comportamentais a esses esquemas podem assumir três formas principais resignação, fuga e compensação. A resignação ocorre quando o indivíduo se submete passivamente ao esquema, como, por exemplo, ao se envolver repetidamente com pessoas emocionalmente indisponíveis, confirmando inconscientemente sua expectativa de abandono. A fuga, por sua vez, manifesta-se na evitação de qualquer situação que possa ativar o esquema como evitar relacionamentos íntimos por medo de sofrer rejeição. Já a compensação envolve o desenvolvimento de comportamentos opostos aos sentimentos dolorosos, como pessoas que aparentam arrogância ou necessidade de controle excessivo, mascarando a vergonha ou o medo de exclusão (Young et al., 2008).

            A psicoterapia, especialmente a terapia cognitivo-comportamental e a terapia do esquema, oferece estratégias eficazes para o enfrentamento desses padrões. O processo terapêutico busca, inicialmente, identificar os esquemas disfuncionais e suas origens, promovendo, em seguida, a construção de respostas mais adaptativas. O trabalho terapêutico também visa fortalecer o “modo saudável adulto”, capacitando o indivíduo a desenvolver formas mais seguras e realistas de se relacionar consigo e com os outros (Beck, 2013).

            Entender e trabalhar esses esquemas é fundamental para que o indivíduo possa se libertar de padrões emocionais que, embora muitas vezes inconscientes, exercem grande influência sobre suas escolhas, vínculos e qualidade de vida. O apoio profissional é essencial nesse processo, pois permite um olhar técnico e cuidadoso sobre essas questões, ajudando o paciente a transformar crenças limitantes em recursos de superação.

Referências:

BECK, Judith S. Terapia cognitiva: teoria e prática. Porto Alegre: Artmed, 2013.
CORDIOLI, Aristides Volpato. Terapias cognitivas: fundamentos e aplicações. Porto Alegre: Artmed, 2018.
YOUNG, Jeffrey E.; KLOSKO, Janet S.; WEISHAAR, Marjorie E. Terapia do esquema: guia de técnica cognitivo-comportamental para avaliação e tratamento. Porto Alegre: Artmed, 2008.

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