Workaholism e Dependência Química: Aproximações Entre Compulsão e Adicção

07/09/2025

Workaholism e Dependência Química: Aproximações Entre Compulsão e Adicção

Por Raique Almeida

            O fenômeno do workaholism, também denominado vício em trabalho, tem sido cada vez mais estudado pela psicologia contemporânea, uma vez que apresenta características semelhantes às de outros comportamentos aditivos, incluindo a dependência química. O artigo “Workaholics e dependência química uma revisão integrativa”, publicado em 2024 na RECIMA21, contribui para esse debate ao discutir as interfaces entre o comportamento obsessivo de trabalho e os mecanismos de compulsão envolvidos no uso de substâncias psicoativas. Trata-se de uma abordagem relevante para compreender a ampliação do conceito de adicção, que não se restringe apenas a drogas químicas, mas também a comportamentos que produzem padrões de dependência (RECIMA21, 2024).

            De acordo com o estudo, o workaholism se caracteriza por uma dedicação excessiva e compulsiva às atividades laborais, acompanhada de sofrimento psíquico, prejuízos sociais e dificuldades nas relações interpessoais. Nesse sentido, observa-se uma sobreposição com a dependência química, na medida em que ambas compartilham elementos como a perda de controle, a tolerância progressiva, a abstinência e a manutenção da prática mesmo diante de consequências negativas (Silva; Almeida, 2022). Assim, o trabalho excessivo pode ser entendido como um comportamento aditivo comportamental, em analogia às dependências químicas clássicas.

            A revisão integrativa apresentada pelo artigo evidencia que, apesar das diferenças de objeto sendo o trabalho um comportamento socialmente valorizado e as drogas substâncias frequentemente estigmatizadas, os processos de compulsividade se sustentam em mecanismos semelhantes de reforço e recompensa. A literatura revisada aponta que a dopamina, neurotransmissor central no sistema de recompensa, está igualmente envolvida tanto no consumo de drogas quanto na dedicação compulsiva ao trabalho (Volkow; Morales, 2015). Essa perspectiva neurocientífica reforça a necessidade de compreender o workaholism como parte de um espectro de adicções.

            Além dos aspectos biológicos, o artigo destaca os determinantes sociais que favorecem a manutenção do vício em trabalho. O modelo socioeconômico contemporâneo, orientado pelo produtivismo e pelo desempenho, fomenta práticas laborais que ultrapassam limites saudáveis, reforçando o comportamento compulsivo. Essa dimensão sociocultural aproxima-se da análise feita por Boff (2014), que discute os impactos da lógica de mercado sobre a subjetividade humana, evidenciando que a sociedade tende a valorizar a produtividade em detrimento da saúde e do equilíbrio existencial.

            Outro ponto abordado pelo estudo é a dificuldade de reconhecimento do workaholism como transtorno. Diferentemente da dependência química, cujo estigma social é elevado, o excesso de trabalho muitas vezes é premiado e legitimado, retardando a procura por ajuda. Entretanto, as consequências clínicas não são menos graves sintomas de ansiedade, depressão, isolamento social e adoecimento físico são frequentemente relatados (Araújo; Silva, 2020). Essa dificuldade de diagnóstico e tratamento ressalta a importância de políticas de saúde mental que considerem o workaholism como um problema de saúde pública.

            Conclui-se que o artigo contribui significativamente para a compreensão das intersecções entre workaholism e dependência química, ao reconhecer que ambas compartilham mecanismos neuropsicológicos e sociais. A reflexão proposta reforça a necessidade de abordagens terapêuticas que tratem a compulsão de forma ampla, considerando tanto os fatores individuais quanto os contextos socioculturais que a sustentam. Assim, abre-se espaço para novas investigações que problematizem os limites entre comportamentos socialmente aceitos e aqueles que, embora legitimados, carregam forte potencial de adoecimento.

Referências

ARAÚJO, M. C.; SILVA, R. A. Workaholism e saúde mental: uma revisão da literatura. Revista Psicologia em Pesquisa, v. 14, n. 2, p. 45-59, 2020.

BOFF, L. Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela Terra. 20. ed. Petrópolis: Vozes, 2014.

RECIMA21. Workaholics e dependência química: uma revisão integrativa. Revista Científica Multidisciplinar RECIMA21, v. 5, n. 12, p. 1-18, 2024.

SILVA, J. F.; ALMEIDA, R. L. Comportamentos aditivos e compulsões: interfaces entre dependência química e não química. Revista Brasileira de Psicologia e Saúde, v. 14, n. 3, p. 77-91, 2022.

VOLKOW, N. D.; MORALES, M. The brain on drugs: from reward to addiction. Cell, v. 162, n. 4, p. 712-725, 2015.

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