A Banalização do Uso do Vape Por Influenciadores Digitais e Seus Impactos na Juventude

31/08/2025

A Banalização do Uso do Vape Por Influenciadores Digitais e Seus Impactos na Juventude

Por Raique Almeida

            O fenômeno das redes sociais transformou-se em uma das principais formas de mediação cultural e social da contemporaneidade. Nesse cenário, os influenciadores digitais ganharam grande relevância por moldarem comportamentos, opiniões e estilos de vida, sobretudo entre adolescentes e jovens. Contudo, observa-se uma crescente banalização do uso do cigarro eletrônico, também chamado de vape, promovido de forma indireta ou explícita por tais figuras públicas. Essa prática, além de normalizar o consumo, mascara os riscos reais à saúde e reforça um imaginário de modernidade, status e pertencimento.

            De acordo com a Organização Mundial da Saúde (2022), o cigarro eletrônico não deve ser considerado uma alternativa segura ao tabaco tradicional, pois contém nicotina e substâncias tóxicas capazes de gerar dependência e doenças respiratórias e cardiovasculares. Entretanto, os influenciadores digitais, ao utilizarem o vape em seus conteúdos, muitas vezes não apenas ocultam tais informações, mas também o associam a contextos de diversão, estilo de vida saudável e até mesmo de autonomia, o que cria um discurso persuasivo e contraditório. Como apontam Paiva e Moura (2020), a juventude, em processo de formação identitária, é altamente suscetível a práticas que conferem visibilidade e integração em determinados grupos, sendo o consumo de substâncias um recurso simbólico nesse processo.

            A publicidade velada presente nos conteúdos digitais configura um desafio ético e legal. Ainda que haja regulamentações brasileiras que proíbam a venda e importação de cigarros eletrônicos (ANVISA, 2009), a ausência de fiscalização efetiva, somada à disseminação midiática, fortalece a sensação de impunidade e normalização social. Segundo Oliveira e Ribeiro (2021), a naturalização do vape nas mídias digitais produz um efeito de legitimação, onde a percepção de risco diminui à medida que cresce a adesão entre pares e ídolos midiáticos.

            Ademais, os algoritmos das plataformas digitais reforçam a visibilidade de comportamentos consumistas, criando um ciclo de repetição e estímulo que intensifica a exposição do público-alvo. Como observa Castells (2018), as redes sociais não apenas refletem comportamentos sociais, mas produzem e ampliam práticas culturais, tornando-se agentes ativos de reprodução simbólica. Assim, a banalização do vape se configura como um problema de saúde pública, uma vez que impulsiona jovens ao consumo precoce e fortalece padrões de dependência química.

            Portanto, a questão não se restringe ao consumo individual, mas se estende à responsabilidade social dos influenciadores digitais e das plataformas. A promoção implícita do cigarro eletrônico fragiliza políticas de saúde e dificulta campanhas preventivas. Como destacam Souza e Lima (2019), a eficácia de ações educativas depende da desconstrução de discursos midiáticos que associam práticas nocivas a estilos de vida positivos. É urgente que medidas regulatórias e educativas avancem para mitigar os efeitos da banalização e garantir um ambiente digital menos permissivo à disseminação de práticas prejudiciais à saúde coletiva.

Referências

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Resolução da Diretoria Colegiada - RDC nº 46, de 28 de agosto de 2009. Brasília, 2009.

CASTELLS, Manuel. Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.

OLIVEIRA, João; RIBEIRO, Camila. A influência das redes sociais no consumo de cigarros eletrônicos. Revista Saúde em Debate, Rio de Janeiro, v. 45, n. 131, p. 1123-1135, 2021.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Relatório global sobre tendências do tabaco 2000–2025. Genebra: OMS, 2022.

PAIVA, Gabriela; MOURA, Thiago. Juventude, identidade e consumo: desafios contemporâneos. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 35, n. 103, p. 1-18, 2020.

SOUZA, Mariana; LIMA, Rafael. Comunicação, juventude e saúde: desafios das campanhas de prevenção no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 24, n. 12, p. 4839-4848, 2019.

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