A Expansão do Crime Organizado nas Pequenas Cidades: A Presença do PCC e do CV no Interior da Bahia

09/08/2025

A Expansão do Crime Organizado nas Pequenas Cidades: A Presença do PCC e do CV no Interior da Bahia

Por Raique Almeida

            O avanço das grandes organizações criminosas brasileiras, como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC), para pequenas cidades do interior da Bahia é um fenômeno complexo, relacionado a fatores socioeconômicos, políticos e geográficos. Originalmente concentradas nos grandes centros urbanos, essas facções expandiram suas atividades em busca de novos mercados, rotas estratégicas e áreas com menor presença do aparato estatal, especialmente no que diz respeito à segurança pública (DIAS, 2013).

            A expansão para áreas interioranas pode ser explicada por um conjunto de variáveis. Primeiramente, a interiorização das rotas do tráfico se intensificou devido à repressão mais efetiva nos grandes centros, levando as organizações a procurar regiões com menor fiscalização policial e fronteiras terrestres e marítimas de fácil acesso (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2020). Além disso, cidades do interior da Bahia passaram a desempenhar papel estratégico como entrepostos logísticos para o escoamento de drogas vindas de estados como Mato Grosso, Goiás e Rondônia, além de portos e litorais baianos que facilitam o envio internacional de entorpecentes (SOUZA, 2021).

            A chegada do PCC e do CV ao interior não se deu apenas por ações violentas, mas também por mecanismos de coaptação social. Essas facções oferecem proteção a pequenos traficantes locais, estabelecem regras e até promovem assistencialismo comunitário, em uma lógica que mistura poder paralelo e conquista de legitimidade social (BARBOSA, 2016). Tal atuação aproveita-se de contextos marcados pela vulnerabilidade econômica e pela ausência de políticas públicas efetivas, criando um ambiente propício para a consolidação de sua influência.

            Outro elemento relevante é a disputa territorial entre facções rivais, que tem gerado aumento significativo dos índices de violência em cidades antes consideradas pacatas. Dados da Secretaria de Segurança Pública da Bahia indicam crescimento de homicídios ligados a conflitos entre facções, inclusive em municípios com menos de 50 mil habitantes (SSP-BA, 2023). Essa escalada de violência impacta diretamente a vida da população local, gerando insegurança, migração e enfraquecimento das economias regionais.

            A penetração do PCC e do CV em pequenas cidades também evidencia fragilidades institucionais. A baixa efetividade da presença policial, a corrupção e a insuficiência de investimentos em inteligência e investigação favorecem a continuidade das operações criminosas. Como destaca Manso (2020), o crime organizado brasileiro se sofisticou, adotando uma lógica empresarial que integra a violência à gestão de mercados ilícitos.

            Portanto, compreender a chegada das facções criminosas a pequenas cidades do interior da Bahia requer uma análise que vá além do enfrentamento policial. É necessário considerar as dinâmicas econômicas, as rotas logísticas, os aspectos socioculturais e o papel do Estado. Sem políticas públicas integradas, que articulem segurança, desenvolvimento social e fortalecimento institucional, a tendência é que o avanço dessas organizações se intensifique, ampliando seu controle territorial e sua influência sobre comunidades vulneráveis.

Referências

BARBOSA, Antonio Rafael. O governo do crime: PCC e CV, organização e poder nas periferias. Rio de Janeiro: Mauad X, 2016.

DIAS, Camila Nunes. PCC: Hegemonia nas prisões e monopólio da violência. São Paulo: Saraiva, 2013.

MANSO, Bruno Paes. A guerra: A ascensão do PCC e o mundo do crime no Brasil. São Paulo: Todavia, 2020.

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Relatório Nacional sobre o Crime Organizado no Brasil. Brasília: MJSP, 2020.

SOUZA, André Luís. Interiorização do tráfico de drogas e segurança pública no Brasil. Revista Brasileira de Segurança Pública, v. 15, n. 2, p. 52-71, 2021.

SSP-BA – SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA DA BAHIA. Boletim Anual de Indicadores de Violência. Salvador: SSP-BA, 2023.

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