A Utilização de Drogas no Meio Médico: Entre a Terapêutica e o Risco da Dependência

17/07/2025

A Utilização de Drogas no Meio Médico: Entre a Terapêutica e o Risco da Dependência

Por Raique Almeida

            A utilização de drogas no meio médico é uma prática historicamente consolidada, essencial para o alívio da dor, tratamento de doenças e suporte à saúde mental. No entanto, o uso terapêutico de substâncias psicoativas também tem gerado preocupações éticas, clínicas e sociais, especialmente quando se trata da automedicação, da dependência química e do uso abusivo por parte de profissionais da saúde.

            As drogas lícitas de prescrição, como opioides, benzodiazepínicos e psicoestimulantes, desempenham papel crucial no manejo de sintomas graves, como dores crônicas, transtornos de ansiedade, insônia e distúrbios neurológicos. Contudo, segundo Carlini (2006), o uso dessas substâncias exige um controle rigoroso, uma vez que podem provocar tolerância, dependência física e psicológica. Nos Estados Unidos, por exemplo, a chamada “crise dos opioides” evidenciou como o uso desenfreado de medicamentos prescritos pode levar a uma epidemia de dependência, com impactos sociais e sanitários significativos (Volkow.2014).

            No Brasil, estudos indicam que médicos e demais profissionais da saúde também estão expostos ao uso inadequado dessas substâncias. O estresse constante, jornadas exaustivas e a fácil disponibilidade de medicamentos podem tornar esses profissionais mais vulneráveis ao uso abusivo de psicotrópicos (Silva. 2020). Segundo Galduróz e Carlini (2007), há uma tendência preocupante de automedicação entre profissionais da área médica, o que pode levar à dependência sem o devido acompanhamento terapêutico.

            É importante ressaltar que nem todo uso de drogas no campo médico é problemático. A Organização Mundial da Saúde (OMS, 1985) destaca que o uso racional de medicamentos é aquele que garante que os pacientes recebam medicamentos apropriados às suas necessidades clínicas, em doses adequadas e por um período adequado. Assim, o desafio contemporâneo está em equilibrar a prescrição ética e cientificamente embasada com políticas de prevenção à dependência e educação continuada dos profissionais da saúde.

            Dessa forma, a utilização de drogas no meio médico exige uma abordagem crítica e humanizada, que reconheça tanto o potencial terapêutico dessas substâncias quanto os riscos associados ao seu uso inadequado. Investir na formação ética e psicossocial dos profissionais da saúde, promover práticas de cuidado integradas e fortalecer a regulamentação são caminhos necessários para garantir que o uso de drogas nesse contexto seja, de fato, a serviço da vida.

 

Referências

CARLINI, E. A. Uso indevido de medicamentos: um problema de saúde pública. Revista da Associação Médica Brasileira, v. 52, n. 2, p. 86–92, 2006.

GALDURÓZ, J.C.F.; CARLINI, E.A. O consumo de psicotrópicos no Brasil: um estudo de base populacional. Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 29, n. 1, p. 24-31, 2007.

SILVA, J. C. Uso de psicotrópicos por profissionais da saúde: revisão integrativa. Revista de Enfermagem UFPE, v. 14, n. 1, p. 1-8, 2020.

VOLKOW, N. D. The neurobiology of drug addiction: perspectives from neuroimaging. The Lancet Psychiatry, v. 1, n. 6, p. 431-444, 2014.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Uso racional de medicamentos: definições e responsabilidades. Genebra: OMS, 1985.

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