Performance a Qualquer Custo? O Uso de Psicoestimulantes no Ensino Superior
17/07/2025

Por Raique Almeida
A crescente competitividade no meio acadêmico, associada à alta demanda por produtividade intelectual, tem contribuído para o aumento do uso de substâncias psicoativas entre estudantes e pesquisadores. Essa realidade, muitas vezes invisibilizada, reflete não apenas questões individuais, mas também estruturas institucionais que naturalizam o excesso de trabalho e o adoecimento mental.
Entre as drogas mais utilizadas estão os psicoestimulantes, como a Ritalina (cloridrato de metilfenidato) e o Modafinil, consumidos com o objetivo de melhorar a concentração, estender o tempo de estudo e aumentar a performance cognitiva. Embora prescritos originalmente para transtornos como o TDAH e a narcolepsia, esses medicamentos vêm sendo usados de forma não médica em ambientes universitários, especialmente entre alunos de cursos altamente exigentes. De acordo com DeSantis, Webb e Noar (2008), cerca de 25% dos estudantes universitários norte-americanos relataram o uso não prescrito de estimulantes para fins acadêmicos.
No Brasil, pesquisa de Morae. (2018) mostrou que o uso de substâncias psicoativas entre estudantes universitários não se restringe aos estimulantes, inclui também o consumo excessivo de álcool, cannabis, benzodiazepínicos e antidepressivos, muitas vezes sem prescrição médica. O uso abusivo desses fármacos está diretamente relacionado ao estresse acadêmico, à ansiedade de desempenho e à cultura do mérito que permeia o espaço universitário.
Autores como Han. (2015) argumentam que o uso de drogas como recurso para o aumento da produtividade acadêmica configura um fenômeno de “dopagem cognitiva”, prática eticamente questionável e potencialmente perigosa para a saúde mental e física. Além dos riscos de dependência e efeitos colaterais, há o agravamento de desigualdades entre estudantes que recorrem ou não a essas substâncias para atender às exigências institucionais.
Ao mesmo tempo, o uso de substâncias no ambiente universitário também revela uma crise de cuidado nas instituições de ensino superior. A ausência de políticas efetivas de saúde mental, acolhimento e promoção do bem-estar cria um terreno fértil para que o uso de drogas se torne uma “estratégia de sobrevivência” frente à pressão constante por excelência acadêmica (Costa .2020).
É fundamental, portanto, que o debate sobre o uso de drogas no meio acadêmico vá além do juízo moral ou da punição, reconhecendo as raízes estruturais do problema. Cabe às universidades repensarem suas práticas pedagógicas, criarem espaços de escuta e apoio psicológico e promoverem uma cultura de cuidado e equilíbrio.
Referências
COSTA, B. C. Uso de substâncias psicoativas e sofrimento mental em universitários: uma revisão integrativa. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 73, n. 6, p. e20190192, 2020.
MORAES, A. F. Consumo de drogas entre universitários brasileiros: uma revisão sistemática. Ciência & Saúde Coletiva, v. 23, n. 11, p. 3931-3944, 2018.