Álcool, Drogas e Exploração Infantil: Vulnerabilidades Interseccionadas em Exclusão Social

09/08/2025

Álcool, Drogas e Exploração Infantil: Vulnerabilidades Interseccionadas em Exclusão Social

Por Raique Almeida

            O fenômeno da exploração infantil no Brasil está intrinsecamente relacionado a múltiplos fatores sociais, econômicos e culturais, sendo o uso abusivo de álcool e drogas um dos elementos que intensificam a vulnerabilidade das crianças e adolescentes, sobretudo em contextos de desigualdade estrutural. Em pequenas cidades e regiões de menor acesso a políticas públicas, a presença de substâncias psicoativas atua como catalisador de processos de exclusão e violência, criando um ciclo que perpetua a violação de direitos fundamentais (SANTOS; GOMES, 2020).

            O uso de álcool, apesar de culturalmente aceito, tem impactos significativos na dinâmica familiar e comunitária. Segundo Carlini. (2017), a exposição precoce de crianças a ambientes onde há consumo abusivo de substâncias aumenta o risco de negligência, abandono e inserção precoce no mercado de trabalho informal ou em redes de exploração sexual. Nessas circunstâncias, o álcool e outras drogas não apenas afetam a capacidade de cuidado dos responsáveis, como também funcionam como moeda de troca em contextos de exploração, onde traficantes e exploradores utilizam o vício para manter o controle sobre vítimas e familiares (BRASIL, 2023).

            A exploração infantil, segundo dados do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (FNPETI, 2022), não se limita ao trabalho forçado em atividades econômicas, mas inclui também a exploração sexual comercial, frequentemente associada ao tráfico de drogas e à prostituição em áreas marginalizadas. Nesses espaços, a vulnerabilidade socioeconômica, aliada à ausência de fiscalização efetiva, cria um ambiente propício para a atuação de redes criminosas que se beneficiam da fragilidade das vítimas e de seus contextos familiares (SOUZA; BARBOSA, 2021).

            Pesquisas de Minayo e Deslandes (2018) indicam que, em lares marcados pelo consumo abusivo de álcool e drogas, há maior probabilidade de violência doméstica, negligência parental e evasão escolar, fatores que alimentam o ciclo da exploração. Assim, o enfrentamento desse problema exige uma abordagem integrada, que envolva políticas de prevenção ao uso de substâncias, programas de fortalecimento familiar e ações repressivas contra redes de exploração infantil.

            A complexidade do tema demanda não apenas respostas emergenciais, mas políticas públicas de longo prazo, com investimentos em saúde mental, assistência social e educação. Conforme defende Boff (2012), a dignidade humana só pode ser plenamente garantida quando há um compromisso coletivo em transformar estruturas injustas e promover condições de vida que respeitem os direitos de cada criança. Nesse sentido, romper o vínculo entre o uso de álcool, drogas e a exploração infantil significa investir na reconstrução de vínculos familiares, no acesso a oportunidades e na proteção integral das crianças e adolescentes, conforme preconiza o Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990).

Referências

BOFF, L. Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela Terra. 18. ed. Petrópolis: Vozes, 2012.

BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 16 jul. 1990.

BRASIL. Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. Relatório sobre exploração sexual e tráfico de crianças e adolescentes no Brasil. Brasília, 2023.

CARLINI, E. A. et al. II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD). São Paulo: INPAD/UNIFESP, 2017.

FNPETI – Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil. Relatório Anual 2022. Brasília, 2022.

MINAYO, M. C. S.; DESLANDES, S. F. A complexidade das relações entre drogas, álcool e violência. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 23, n. 1, p. 1-12, 2018.

SANTOS, M. R.; GOMES, A. P. Vínculos familiares e vulnerabilidade social no contexto da exploração infantil. Revista de Estudos Interdisciplinares, Belo Horizonte, v. 22, n. 2, p. 45-60, 2020.

SOUZA, T. L.; BARBOSA, R. P. Drogas, pobreza e exploração sexual de crianças e adolescentes. Revista Brasileira de Direitos Humanos, Curitiba, v. 17, n. 1, p. 89-105, 2021.

Blog

Informações sobre prevenção, tratamento e recuperação da dependência química e alcoolismo

Este site usa cookies do Google para fornecer serviços e analisar tráfego.Saiba mais.