As mensagens sobre drogas no rap: como sobreviver na periferia

10/05/2025

As mensagens sobre drogas no rap: como sobreviver na periferia

Por Vinícius Gonçalves Bento da Silva e Cássia Baldini Soares

            O artigo analisa como as letras de rap abordam o tema das drogas e suas implicações na vida dos jovens da periferia de São Paulo. O rap é apresentado não apenas como um estilo musical, mas como uma poderosa ferramenta de comunicação e denúncia social, especialmente entre jovens negros e pobres. Inserido na cultura hip hop que também envolve o grafite e o break o rap se configura como um movimento sociocultural que reflete as transformações econômicas e sociais das últimas décadas.

Através da análise de onze letras de nove grupos de rap como Racionais MCs, RZO, Facção Central, Thaide & DJ Hum, entre outros, o estudo evidencia como esses artistas utilizam suas músicas para denunciar a exclusão social, a violência, o tráfico de drogas, a discriminação racial e a ausência do Estado nas periferias. Os Racionais MCs, por exemplo, são apontados como os principais representantes de um discurso crítico ao capitalismo e às condições degradantes vividas por jovens da periferia. Enquanto isso, grupos como Thaíde & DJ Hum e XIS abordam mais as experiências individuais e os conflitos familiares, e outros, como 509-E, focam na criminalidade.

Essas letras de rap utilizam uma linguagem marcada fortemente pela gíria, o que cria um código de identificação dentro do grupo e reforça a identidade dos jovens periféricos. Essa linguagem própria também funciona como resistência à ideologia dominante propagada pela mídia, especialmente a televisão, que promove valores de consumo e status. O rap, então, não só denuncia a realidade, mas também tenta oferecer caminhos de superação valorização da educação, prática de esportes, religiosidade e fortalecimento dos laços comunitários.

A vida na periferia é retratada de maneira complexa e ambígua nas letras analisadas. Por um lado, é um espaço de exclusão, marcado pela ausência de políticas públicas, pela violência, tráfico e corrupção policial. Por outro, também é um espaço de solidariedade, onde se formam laços de apoio e resistência. A periferia, portanto, não é apenas um local geográfico, mas uma categoria social que une diferentes bairros pela vivência comum da marginalização. Isso permite aos rappers criarem uma identidade coletiva que atravessa os limites espaciais e fortalece os laços de lealdade e pertencimento.

O estudo revela ainda que, para os rappers, o envolvimento com as drogas e o crime é influenciado por fatores familiares e sociais. A proposta implícita nas letras é a de valorização individual, da família e da comunidade como caminhos para fugir das armadilhas do tráfico e da violência. A música aparece como um instrumento de orientação e prevenção, alertando para os perigos da criminalidade e incentivando alternativas positivas. Apesar das críticas à atuação do Estado especialmente à polícia e à escola, os rappers reconhecem a importância dessas instituições desde que atuem de forma ética e eficaz. Defendem, por exemplo, uma educação baseada no diálogo e na mediação de conflitos, contrapondo-se ao uso da força bruta.

Em suma, o rap brasileiro, como mostrado neste estudo, assume uma função fundamental na construção de consciência crítica, sendo ao mesmo tempo denúncia, resistência e proposta de transformação social. Através de suas letras, os rappers retratam a realidade dura da periferia, mas também apontam possibilidades de superação, convidando os jovens a resistirem ao ciclo da exclusão por meio do conhecimento, da cultura e da solidariedade.

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