Consequências do Uso Prolongado da Cocaína no Sistema Cardiovascular: Um Enfoque nas Arritmias

26/07/2025

Consequências do Uso Prolongado da Cocaína no Sistema Cardiovascular: Um Enfoque nas Arritmias

Por Raique Almeida

            O uso prolongado da cocaína está fortemente associado a graves consequências cardiovasculares, sendo as arritmias cardíacas uma das complicações mais frequentes e perigosas. Essa substância, considerada um potente estimulante do sistema nervoso central, exerce efeitos diretos sobre o coração ao interferir nos mecanismos autonômicos, promovendo um aumento significativo da atividade simpática. Como resultado, há elevação da frequência cardíaca, da pressão arterial e da demanda de oxigênio pelo miocárdio, o que pode culminar em eventos cardiovasculares agudos e crônicos (BRUST, 2016).

            A cocaína atua como um inibidor da recaptação de neurotransmissores como a noradrenalina e a dopamina nas sinapses nervosas, intensificando a estimulação adrenérgica. Esse mecanismo contribui para a vasoconstrição coronariana, o espasmo arterial e a formação de trombos, fatores que elevam o risco de infarto agudo do miocárdio, mesmo em indivíduos jovens e sem histórico prévio de doenças cardíacas (TANABE; SHIRAKAWA, 2019). Além disso, estudos indicam que o uso crônico da droga pode induzir alterações estruturais no miocárdio, como fibrose e hipertrofia ventricular, predispondo o usuário a arritmias fatais, como a fibrilação ventricular e a taquicardia ventricular sustentada (MORAES., 2020).

            Outro fator preocupante é a ocorrência de miocardiopatia induzida por cocaína, uma condição em que o músculo cardíaco sofre deterioração progressiva, resultando em insuficiência cardíaca. Essa disfunção pode se manifestar com dispneia, fadiga e edema periférico, exigindo acompanhamento médico contínuo e, em casos extremos, transplante cardíaco. Segundo Maraj, Figueredo e Lynn (2017), essa condição está subdiagnosticada, especialmente entre adictos que relutam em relatar o uso da substância por medo de estigmatização ou implicações legais.

            Cabe destacar ainda a ocorrência de endocardite infecciosa em adictos de cocaína, sobretudo entre aqueles que a administram por via intravenosa. A introdução de bactérias na corrente sanguínea, associada à vasoconstrição induzida pela droga, favorece a colonização de válvulas cardíacas, principalmente a tricúspide, levando a complicações graves como embolia séptica e disfunção valvar (SILVA; OLIVEIRA; CAMPOS, 2022).

            Diante da ampla gama de efeitos adversos da cocaína sobre o sistema cardiovascular, é evidente a necessidade de políticas públicas voltadas à prevenção do uso e à ampliação do acesso ao tratamento. O acompanhamento interdisciplinar do adicto, envolvendo médicos, psicólogos e assistentes sociais, é essencial para o manejo das complicações clínicas e para a promoção da abstinência. A cocaína não apenas compromete a integridade física do indivíduo, como também impõe um fardo significativo ao sistema de saúde pública, reiterando a urgência de estratégias mais eficazes de combate à dependência química.

Referências
BRUST, John C. M. Neurologia Clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.
MORAES, Carla T. Complicações cardiovasculares do uso crônico de cocaína: revisão integrativa. Revista Brasileira de Cardiologia, v. 33, n. 2, p. 124-130, 2020.
SILVA, Renata A.; OLIVEIRA, João P.; CAMPOS, Letícia M. Endocardite infecciosa em usuários de drogas: uma revisão sistemática. Jornal Brasileiro de Doenças Infecciosas, v. 26, n. 1, p. 22-30, 2022.

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