Dependência Disfarçada: Os Danos Sistêmicos do Uso Prolongado de Opioides no Corpo Humano

30/07/2025

Dependência Disfarçada: Os Danos Sistêmicos do Uso Prolongado de Opioides no Corpo Humano

Por Raique Almeida

            O uso prolongado de opioides representa um grave problema de saúde pública, com efeitos significativos sobre diversos sistemas do corpo humano. Inicialmente prescritos para controle de dor intensa, esses fármacos como a morfina, a codeína, a oxicodona e o fentanil atuam nos receptores opioides do sistema nervoso central, promovendo alívio da dor e sensação de euforia. No entanto, o uso contínuo pode levar à tolerância, dependência física e psicológica, e a uma série de consequências fisiopatológicas. Estudos demonstram que o consumo crônico de opioides pode causar alterações no funcionamento cerebral, como redução da atividade do córtex pré-frontal, responsável pela tomada de decisões e controle inibitório, o que compromete significativamente o julgamento e aumenta o risco de comportamento compulsivo (DUARTE. 2020).

            No sistema gastrointestinal, é comum a ocorrência de constipação crônica induzida por opioides, conhecida como "constipação por opioide", devido à redução da motilidade intestinal. Esse efeito adverso é frequentemente relatado como um dos principais motivos de abandono de tratamento analgésico. Além disso, o uso prolongado pode interferir na função endócrina, provocando hipogonadismo e disfunções hormonais, que se manifestam em fadiga, disfunção sexual, perda de massa muscular e alterações no humor (FREITAS. 2019).

            Outro impacto relevante é a depressão respiratória, um dos efeitos colaterais mais perigosos dos opioides, especialmente em altas doses. A depressão do centro respiratório pode ser letal, sendo uma das principais causas de morte por overdose. Ademais, o uso prolongado está associado à imunossupressão, o que aumenta a suscetibilidade a infecções oportunistas, além de agravar comorbidades preexistentes. Estudos apontam ainda para o comprometimento cardiovascular, como bradicardia e hipotensão, em razão da ação dos opioides nos receptores do sistema nervoso autônomo (SOUZA; LIMA; MONTEIRO, 2021).

            O risco de dependência química é outro aspecto crítico. O uso contínuo leva à neuroadaptação, com alterações na transmissão dopaminérgica e na resposta ao estresse, tornando o organismo cada vez mais dependente da substância para alcançar estados mínimos de bem-estar. Essa dependência, além de prejudicar a saúde física, compromete a saúde mental, favorecendo quadros de depressão, ansiedade e isolamento social. Dada a complexidade dos danos fisiológicos e psicossociais causados pelos opioides, é fundamental que sua prescrição seja feita com critério, com monitoramento constante e sempre acompanhada de orientações terapêuticas e alternativas de controle da dor.

            Dessa forma, conclui-se que os opioides, embora eficazes no tratamento de dores agudas e crônicas, apresentam um alto potencial de causar danos ao organismo quando utilizados de forma prolongada. Os prejuízos vão desde alterações neurológicas e gastrointestinais até riscos cardíacos e respiratórios severos, exigindo uma abordagem cuidadosa e integrativa tanto na prescrição quanto na recuperação de pacientes em uso crônico dessas substâncias.

Referências

DUARTE, R. S. Efeitos neuropsicológicos do uso prolongado de opioides: uma revisão sistemática. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, v. 42, n. 3, p. 281-289, 2020.

FREITAS, T. M. Consequências endócrinas do uso crônico de opioides: uma abordagem integrativa. Jornal Brasileiro de Endocrinologia, Rio de Janeiro, v. 63, n. 4, p. 355-362, 2019.

SOUZA, L. F.; LIMA, R. A.; MONTEIRO, A. L. Danos sistêmicos do uso prolongado de opioides: uma revisão integrativa. Revista de Ciências da Saúde do Centro-Oeste, Goiânia, v. 7, n. 2, p. 45-52, 2021.

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