Dependência Silenciosa: Os Riscos do Uso Prolongado de Tadalafila e Sildenafila

30/07/2025

Dependência Silenciosa: Os Riscos do Uso Prolongado de Tadalafila e Sildenafila

Por Raique Almeida

            O uso prolongado de medicamentos inibidores da fosfodiesterase tipo 5 (PDE-5), como a tadalafila e a sildenafila (popularmente conhecida como Viagra), tem sido cada vez mais comum, inclusive entre indivíduos sem diagnóstico de disfunção erétil. Embora esses fármacos sejam eficazes no tratamento da disfunção erétil, sua utilização contínua e sem acompanhamento médico pode acarretar diversos efeitos adversos ao organismo humano. Estudos apontam que o uso recreativo desses medicamentos está associado à busca por melhor desempenho sexual, o que contribui para a banalização de seu consumo e a negligência quanto aos riscos à saúde (OLIVEIRA. 2020).

            Entre os principais efeitos fisiológicos negativos associados ao uso prolongado dessas substâncias, destacam-se os distúrbios cardiovasculares, como taquicardia, arritmias e quedas bruscas de pressão arterial. Isso ocorre porque esses medicamentos promovem vasodilatação sistêmica, o que pode ser perigoso, especialmente em indivíduos com histórico de doenças cardíacas (SANTOS; COSTA, 2021). Além disso, há relatos de alterações visuais, como visão turva e fotofobia, resultantes da interferência da sildenafila nas enzimas da retina. Tais alterações podem se tornar persistentes em casos de uso contínuo, comprometendo a qualidade de vida do indivíduo (RODRIGUES; ALMEIDA, 2019).

            Outro efeito preocupante está relacionado à saúde sexual e psicológica. O uso contínuo de tadalafil e sildenafila pode gerar tolerância farmacológica e dependência psicológica, levando o usuário a desenvolver insegurança quanto ao desempenho sexual sem o uso dos fármacos. Isso contribui para o enfraquecimento da resposta sexual espontânea e para o aumento da ansiedade de desempenho, o que perpetua o uso do medicamento de maneira crônica (FERREIRA; OLIVEIRA, 2022). Além disso, estudos sugerem que o uso indiscriminado desses fármacos pode mascarar problemas subjacentes, como disfunções hormonais ou transtornos de ansiedade, retardando diagnósticos e tratamentos adequados (SOUZA. 2021).

            Em longo prazo, o impacto hepático e renal também deve ser considerado. O metabolismo da tadalafila e da sildenafila ocorre no fígado, e sua excreção envolve os rins, o que implica que o uso contínuo pode sobrecarregar esses órgãos, aumentando o risco de lesões hepáticas e comprometimento da função renal (MARTINS; LIMA, 2020). Embora esses efeitos não sejam comuns em uso terapêutico controlado, tornam-se relevantes quando o consumo é frequente e sem orientação médica.

            Dessa forma, o uso prolongado de tadalafila e sildenafila sem necessidade clínica comprovada e sem acompanhamento especializado representa um risco considerável à saúde física e mental. A banalização desses medicamentos como recursos para aumento do prazer sexual deve ser combatida com políticas de educação em saúde, abordando seus riscos e incentivando práticas sexuais saudáveis e seguras.

Referências

FERREIRA, L. M.; OLIVEIRA, R. A. Uso recreativo de inibidores da PDE-5 e implicações psicossociais em jovens. Revista Brasileira de Saúde Sexual e Reprodutiva, v. 31, n. 2, p. 55-62, 2022.

MARTINS, P. R.; LIMA, A. C. Avaliação da toxicidade hepática e renal em usuários crônicos de tadalafila. Revista de Ciências Farmacêuticas Básica e Aplicada, v. 41, n. 3, p. 217-224, 2020.

OLIVEIRA, F. S. Prevalência do uso indevido de medicamentos para disfunção erétil em estudantes universitários. Revista de Medicina e Saúde Pública, v. 8, n. 1, p. 34-39, 2020.

RODRIGUES, H. M.; ALMEIDA, M. J. Efeitos oculares adversos associados ao uso de sildenafila: revisão da literatura. Arquivos Brasileiros de Oftalmologia, v. 82, n. 6, p. 438-442, 2019.

SANTOS, D. F.; COSTA, T. R. Riscos cardiovasculares do uso prolongado de inibidores da fosfodiesterase tipo 5. Jornal Brasileiro de Cardiologia Clínica, v. 17, n. 4, p. 145-150, 2021.

SOUZA, G. B. A medicalização da sexualidade: análise crítica do uso de fármacos para desempenho sexual. Saúde e Sociedade, v. 30, n. 1, p. 101-110, 2021.

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