Musculação, Uso de Esteroides Anabolizantes e Percepção de Risco Entre Jovens Fisiculturistas

Por Raique Almeida

            O artigo investiga o uso de esteroides anabolizantes entre jovens praticantes de musculação em uma academia localizada em uma área popular da cidade de Salvador. A pesquisa qualitativa explora as motivações para o uso dessas substâncias, a forma como são obtidas, os modos de consumo e as percepções dos usuários sobre os riscos envolvidos. O estudo se insere no campo da saúde coletiva, buscando compreender práticas corporais e comportamentos de risco sob uma perspectiva sociocultural.

Através de entrevistas semiestruturadas com frequentadores da academia, os autores identificaram que o uso de anabolizantes está fortemente relacionado à busca por um corpo musculoso idealizado, associado a valores como força, masculinidade, sucesso e respeito social. Muitos dos jovens entrevistados relataram pressões do meio social e da própria comunidade da academia para desenvolver corpos considerados "perfeitos", revelando que o uso de substâncias anabolizantes se torna, muitas vezes, uma exigência tácita para alcançar esse padrão. Além disso, o estudo revela uma banalização dos riscos, já que os usuários, mesmo cientes de possíveis efeitos adversos, tendem a minimizar ou relativizar os danos à saúde, em nome de resultados estéticos mais rápidos e visíveis.

Outro ponto relevante abordado no artigo é a circulação dos anabolizantes fora dos canais médicos legais. A obtenção dessas substâncias ocorre de forma informal, muitas vezes através de colegas de treino ou de vendedores que frequentam a própria academia, o que agrava o problema do uso indiscriminado e sem orientação técnica. Os autores argumentam que a ausência de políticas públicas eficazes para lidar com essa demanda, bem como a precariedade das estratégias de educação em saúde voltadas a esse público, contribui para a perpetuação de práticas de risco e para a consolidação de normas culturais que valorizam o culto ao corpo em detrimento da saúde.

Por fim, o artigo sugere a necessidade de abordagens intersetoriais que envolvam educação, saúde e cultura para lidar com o problema do uso de anabolizantes em academias populares. A compreensão dos fatores sociais, simbólicos e subjetivos que motivam o uso dessas substâncias é essencial para o desenvolvimento de estratégias de intervenção mais eficazes e respeitosas com os contextos de vida desses jovens. A pesquisa destaca ainda a importância de promover espaços de escuta e diálogo nos ambientes de prática esportiva, visando à construção de práticas corporais mais saudáveis e críticas.

Referência:

IRIART, Jorge Alberto Bernstein; ANDRADE, Tarcísio Matos de. Musculação, uso de esteróides anabolizantes e percepção de risco entre jovens fisiculturistas de um bairro popular de Salvador, Bahia, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 18, n. 5, p. 1379-1387, out. 2002.