Dependência química e abordagem centrada na pessoa: contribuições e desafios comunidade terapêutica

30/06/2025

Dependência química e abordagem centrada na pessoa: contribuições e desafios comunidade terapêutica

Por Raique Almeida

            O artigo apresenta uma reflexão teórica sobre os possíveis diálogos entre a Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), proposta por Carl Rogers, e as práticas desenvolvidas em comunidades terapêuticas voltadas ao tratamento da dependência química. Os autores reconhecem que essas instituições ocupam um lugar relevante no cenário brasileiro de cuidado em saúde mental, especialmente em contextos marcados pela ausência de serviços públicos efetivos. No entanto, também observam que muitas comunidades terapêuticas operam com base em práticas moralizantes, autoritárias e punitivas, frequentemente ancoradas em discursos religiosos e na negação da autonomia do sujeito.

Em contraste com essas práticas tradicionais, a ACP é apresentada como uma proposta que valoriza a escuta empática, a aceitação incondicional e a confiança na capacidade do indivíduo de se transformar a partir de sua própria experiência. A abordagem rogeriana propõe que o processo terapêutico ocorra dentro de uma relação genuína, na qual o terapeuta atua como facilitador, promovendo um espaço seguro para o desenvolvimento da autonomia, da congruência interna e da responsabilidade pessoal. Aplicada ao contexto da dependência química, essa perspectiva oferece contribuições significativas ao propor uma escuta que reconhece o sofrimento sem reduzi-lo à lógica da culpa ou da disciplina, fomentando possibilidades de mudança baseadas na liberdade de escolha e no respeito à singularidade do adicto.

Apesar de seu potencial transformador, os autores reconhecem desafios importantes para a efetiva incorporação da ACP nas comunidades terapêuticas. Entre eles, destacam-se a necessidade de formação específica e contínua dos profissionais, a resistência de estruturas institucionais marcadas por rigidez e hierarquia, bem como as limitações materiais e ideológicas que dificultam a adoção de um modelo centrado na pessoa.

Ainda assim, o artigo defende que a ACP não se restringe a uma técnica terapêutica, mas representa um posicionamento ético-político diante da clínica com pessoas em sofrimento psíquico. Nesse sentido, a abordagem centrada na pessoa convoca os profissionais e as instituições a repensarem suas práticas e a promoverem um cuidado mais humano, dialógico e emancipador, contribuindo para a superação de modelos que reforçam a exclusão e a desumanização no tratamento da dependência química.

Referência:

BRITO, Rafaella Medeiros de Mattos; SOUSA, Tiago Monteiro. Dependência química e abordagem centrada na pessoa: contribuições e desafios em uma comunidade terapêutica. Revista da Abordagem Gestáltica, Goiânia, v. 20, n. 1, p. 91–99, jun. 2014.

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