O Percurso das Drogas no Império da Anfetamina

28/06/2025

O Percurso das Drogas no Império da Anfetamina

Por Raique Almeida

            O artigo examina o processo histórico e científico que culminou na ascensão das anfetaminas como substâncias de uso amplo, tanto no campo médico quanto fora dele. O autor traça um percurso detalhado das anfetaminas desde sua síntese laboratorial no início do século XX até sua consolidação como elemento central em um verdadeiro império farmacológico. Ao longo do texto, destaca-se a forma como as transformações científicas, industriais e culturais contribuíram para a legitimação do uso dessas substâncias, bem como para a banalização de seus efeitos e riscos potenciais.

Soares evidencia que, embora inicialmente as anfetaminas tenham sido introduzidas com finalidades terapêuticas específicas como o tratamento de distúrbios respiratórios e da fadiga, rapidamente seu uso foi ampliado para fins diversos, inclusive militares e recreativos. O autor ressalta que, durante a Segunda Guerra Mundial, esses compostos foram distribuídos a soldados para manter o estado de vigília e aumentar o rendimento físico e mental, criando um precedente para seu uso massivo. Com o pós-guerra, as indústrias farmacêuticas investiram fortemente na difusão dos medicamentos à base de anfetamina, o que acarretou uma medicalização crescente de sintomas relacionados à produtividade, obesidade e ansiedade.

A análise de Ricardo Soares também contempla os dispositivos sociais e institucionais que sustentaram a circulação e o consumo dessas drogas, ressaltando o papel dos médicos, da publicidade e das políticas de regulação sanitária. A noção de “império” das anfetaminas, segundo o autor, refere-se ao modo como essas substâncias passaram a ocupar lugar central na cultura moderna, funcionando como suporte químico à lógica capitalista de desempenho, eficiência e controle dos corpos. Soares critica ainda a forma como a regulação estatal oscilou entre permissividade e repressão, ora favorecendo os interesses da indústria farmacêutica, ora reagindo ao crescimento do uso indevido e dos danos associados.

Em suma, o artigo oferece uma contribuição relevante para os estudos sobre a história das drogas, ao demonstrar como as anfetaminas se transformaram em produtos simbólicos e materiais de um modelo social que valoriza o rendimento acima da saúde. O autor propõe uma reflexão crítica sobre os processos de medicalização e farmacologização da vida cotidiana, chamando atenção para os limites éticos e políticos do uso dessas substâncias. O texto se insere, assim, no debate contemporâneo sobre o papel das drogas na sociedade e os interesses que moldam sua produção, prescrição e consumo.

Referência:

SOARES, Ricardo. O percurso das drogas no império da anfetamina. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 26, n. 2, p. 529-547, abr./jun. 2019.

Blog

Informações sobre prevenção, tratamento e recuperação da dependência química e alcoolismo

Este site usa cookies do Google para fornecer serviços e analisar tráfego.Saiba mais.