Os mortos e feridos na ‘guerra às drogas’: uma crítica ao paradigma proibicionista
28/06/2025

Por Raique Almeida
O artigo analisa criticamente os efeitos sociais, políticos e psicológicos do modelo proibicionista que sustenta a chamada “guerra às drogas” no Brasil. As autoras partem da constatação de que o paradigma proibicionista, longe de promover a segurança e o bem-estar social, tem aprofundado desigualdades, legitimado ações violentas do Estado e criminalizado de maneira seletiva populações marginalizadas, especialmente jovens negros e moradores de periferias urbanas. Por meio de uma abordagem crítica fundamentada na Psicologia Social, o artigo discute como o discurso de combate às drogas tem sido utilizado como justificativa para o extermínio simbólico e físico de determinados grupos sociais.
As autoras argumentam que esse modelo de enfrentamento das drogas sustenta uma lógica de controle social, reforçando estigmas e invisibilizando as causas estruturais do uso e do tráfico de substâncias psicoativas. A guerra às drogas, conforme discutido, opera como um dispositivo de poder que seleciona quais corpos podem ser eliminados em nome da “ordem pública”, alimentando práticas genocidas e racistas que são naturalizadas no cotidiano. O artigo também aponta que a manutenção desse paradigma encontra apoio em discursos midiáticos, jurídicos e políticos que mascaram seus efeitos devastadores, ao mesmo tempo em que silencia propostas alternativas pautadas na redução de danos, na descriminalização e em políticas públicas baseadas em direitos humanos.
Por fim, as autoras defendem a urgência de romper com o paradigma proibicionista e propõem uma mudança de perspectiva, tanto na prática quanto na teoria, que permita compreender as drogas como fenômenos complexos, atravessados por fatores históricos, econômicos e culturais. A crítica apresentada não se limita à denúncia dos efeitos nefastos da guerra às drogas, mas aponta para a construção de uma nova ética social, orientada pelo reconhecimento da dignidade e da pluralidade dos sujeitos envolvidos. A Psicologia, nesse contexto, é convocada a assumir um papel político e transformador, atuando na promoção de práticas que não reproduzam a lógica de exclusão e morte, mas que valorizem a escuta, o cuidado e a justiça social.
Referência:
RYBKA, Larissa Nadine; NASCIMENTO, Juliana Luporini do; GUZZO, Raquel Souza Lobo. Os mortos e feridos na “guerra às drogas”: uma crítica ao paradigma proibicionista. Estudos de Psicologia (Campinas), v. 35, n. 1, p. 7-17, jan./mar. 2018.