Uso de Drogas como Álcool e Êxtase em Boates: Um Fenômeno entre Jovens no Contexto do Lazer Noturno
16/07/2025

Por Raique Almeida
O consumo de drogas em ambientes de lazer, como boates e casas noturnas, constitui um fenômeno crescente entre os jovens, especialmente no contexto urbano. Entre as substâncias mais comuns nesse cenário, destacam-se o álcool e o êxtase (nome popular do MDMA), cujo uso está relacionado à busca por prazer, desinibição, pertencimento grupal e intensificação das experiências sensoriais. O álcool, por sua ampla aceitação social e fácil acesso, muitas vezes funciona como uma porta de entrada para o uso de outras substâncias. Já o êxtase, com seus efeitos empatogênicos e estimulantes, é frequentemente associado ao universo das festas eletrônicas e à cultura do hedonismo juvenil.
Estudos apontam que a faixa etária mais vulnerável a esse padrão de consumo situa-se entre 18 e 30 anos, período marcado por intensas transformações identitárias, experimentações e construção de vínculos sociais. Segundo Carlini. (2010), o uso dessas substâncias em contextos festivos não pode ser entendido apenas como um comportamento de risco isolado, mas como parte de uma dinâmica sociocultural mais ampla, que envolve valores contemporâneos ligados à liberdade individual, à celebração do corpo e à maximização do prazer. Nesse sentido, o consumo de drogas se insere em um campo simbólico em que o jovem busca autoafirmação e pertencimento a determinados grupos ou estilos de vida.
Entretanto, os riscos associados ao uso dessas substâncias são significativos. O álcool, por exemplo, está diretamente relacionado a acidentes, comportamentos violentos e vulnerabilidade sexual, enquanto o êxtase, apesar de seus efeitos prazerosos, pode causar hipertermia, desidratação, arritmias cardíacas e, em alguns casos, levar à morte. Além disso, o uso combinado dessas substâncias potencializa seus efeitos nocivos, elevando os riscos à saúde física e mental dos usuários. De acordo com Sanchez e Nappo (2007), a banalização do uso recreativo e a ausência de políticas públicas voltadas especificamente para a prevenção em ambientes noturnos contribuem para a perpetuação desse cenário.
A análise do consumo de álcool e êxtase em boates entre jovens exige, portanto, uma abordagem interdisciplinar, que considere os aspectos culturais, sociais e psicológicos envolvidos nesse comportamento. É fundamental superar perspectivas moralistas e repressivas, que pouco contribuem para a compreensão do fenômeno, e investir em estratégias de redução de danos, educação para o consumo consciente e ampliação do diálogo com os frequentadores desses espaços. Apenas assim será possível construir políticas eficazes de prevenção e cuidado, que respeitem os direitos individuais, mas que também se preocupem com a saúde coletiva.
Referências
CARLINI, E. A. II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas – LENAD. São Paulo: UNIFESP, 2010.
SANCHEZ, Z. M.; NAPPO, S. A. Características de uma cena de uso de ecstasy em São Paulo: o ponto de vista dos usuários. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 41, n. 3, p. 495-502, 2007.