Vivências da Desintoxicação Hospitalar: A Perspectiva de adictos em Tratamento da Dependência

02/08/2025

Vivências da Desintoxicação Hospitalar: A Perspectiva de adictos em Tratamento da Dependência

Por Raique Almeida

            A dependência química, considerada um problema de saúde pública de alta complexidade, demanda abordagens terapêuticas que contemplem não apenas a desintoxicação física, mas também os aspectos subjetivos do sujeito em sofrimento. Um estudo qualitativo realizado com 12 adictos internados em um hospital do Rio Grande do Sul, com períodos de internação variando entre 3 e 39 dias, buscou compreender as percepções desses pacientes sobre o processo de desintoxicação hospitalar, a atuação dos profissionais de saúde e as expectativas quanto ao futuro (Lopes. 2021). A pesquisa revelou que, embora o ambiente hospitalar seja reconhecido como importante para a interrupção do uso da substância, os adictos relatam experiências ambivalentes ao mesmo tempo em que valorizam o cuidado recebido, apontam a rigidez institucional e a escassez de escuta como limitantes na construção de um vínculo terapêutico efetivo.

            As falas dos participantes evidenciaram que o acolhimento e a postura empática da equipe de saúde são fatores determinantes para a adesão ao tratamento, especialmente quando há uma escuta ativa e o reconhecimento das singularidades de cada sujeito. Por outro lado, a ausência de estratégias integrativas de cuidado, como oficinas terapêuticas, grupos reflexivos e preparação para a alta, foi percebida como uma lacuna que compromete a continuidade do processo de recuperação. O estudo também destaca a importância da reinserção social, em especial nos contextos familiar e educacional, como um dos principais desejos dos pacientes após o período de internação. A volta aos estudos, a retomada de vínculos afetivos e a reconstrução da autoestima foram mencionadas como metas fundamentais para o projeto de vida pós-internação.

            Nesse contexto, reforça-se a importância de um tratamento que vá além da lógica biomédica e que considere as dimensões subjetivas, sociais e relacionais do adoecimento por drogas. Como afirma Paim (2020), a dependência química não pode ser reduzida ao consumo da substância, sendo necessário compreender o sofrimento psíquico que a sustenta. Nesse sentido, a escuta qualificada, o cuidado humanizado e o trabalho em equipe interdisciplinar são elementos indispensáveis para um tratamento efetivo e respeitoso. Além disso, a hospitalização deve ser pensada como parte de um processo contínuo de cuidado, articulado com a rede de atenção psicossocial, garantindo a continuidade do acompanhamento após a alta.

            Portanto, o estudo evidencia que a hospitalização para desintoxicação, embora necessária em determinados casos, só será eficaz se estiver integrada a práticas que respeitem a autonomia, os desejos e as necessidades dos adictos. O reconhecimento do sujeito como protagonista de sua própria história de superação é um princípio fundamental para a consolidação de políticas públicas que, de fato, promovam a recuperação e a dignidade daqueles que enfrentam o desafio da dependência química.

Referências
LOPES, Camila Goulart; BRUN, Marilene; SCHIMITH, Maria Denise. A dependência química e o tratamento de desintoxicação hospitalar na fala dos usuários. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 74, n. 1, p. e20200775, 2021.

PAIM, Lílian Ferreira. A complexidade do cuidado na dependência química: desafios éticos e práticas humanizadas. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, v. 24, p. e200415, 2020

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