Drogas e TEA: Impactos e Riscos à Saúde Mental
10/09/2025

Por Raique Almeida
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento caracterizada por dificuldades de comunicação social e padrões de comportamento restritos e repetitivos, podendo apresentar diferentes níveis de gravidade. Nos últimos anos, a associação entre o uso de substâncias psicoativas e indivíduos com TEA tem se mostrado uma preocupação crescente, tanto no campo clínico quanto no social, visto que os efeitos do consumo de drogas podem potencializar vulnerabilidades já existentes nesses sujeitos (APA, 2014).
Pesquisas apontam que pessoas com TEA apresentam maior risco de desenvolver transtornos psiquiátricos associados, como ansiedade e depressão, que frequentemente estão relacionados ao consumo de drogas como forma de automedicação (Fombonne, 2018). Esse dado torna-se relevante, pois a busca por alívio de sintomas emocionais e sociais pode levar ao uso abusivo de álcool, maconha, estimulantes e outras substâncias. Nesse sentido, a associação entre TEA e drogas não apenas intensifica dificuldades comportamentais, mas também compromete o desenvolvimento cognitivo e a integração social dos indivíduos (Abreu; Jorge, 2022).
Outro aspecto preocupante refere-se ao impacto do consumo de drogas no funcionamento neurológico. Estudos em neurociência demonstram que substâncias psicoativas alteram os circuitos dopaminérgicos, relacionados ao prazer e à motivação, afetando diretamente processos de aprendizagem e regulação emocional (Volkow. 2016). Em pessoas com TEA, que já apresentam diferenças significativas na conectividade cerebral, o uso de drogas pode intensificar déficits de atenção, aumentar a impulsividade e acentuar comportamentos desorganizados, ampliando os prejuízos cognitivos e sociais (Bosa; Sifuentes, 2020).
No contexto familiar e social, os efeitos também são alarmantes. O uso de drogas em pessoas com TEA pode dificultar ainda mais a construção de vínculos, gerar comportamentos agressivos ou de isolamento, além de sobrecarregar as famílias em seus cuidados cotidianos (Schmidt; Bosa, 2017). Soma-se a isso o fato de que, devido às barreiras de comunicação, muitas vezes há dificuldade na identificação precoce do uso de substâncias, retardando o acesso a intervenções terapêuticas.
Portanto, a relação entre drogas e TEA deve ser tratada como uma questão prioritária em saúde pública e clínica. A prevenção e o tratamento demandam estratégias interdisciplinares, envolvendo profissionais da psiquiatria, psicologia, serviço social e pedagogia, a fim de reduzir os riscos e promover uma abordagem integral. Investir em políticas públicas voltadas à orientação das famílias, capacitação de profissionais e programas de prevenção é fundamental para minimizar os impactos do uso de drogas em pessoas com TEA e garantir maior qualidade de vida (Abreu; Jorge, 2022).
Dessa forma, pode-se concluir que o consumo de substâncias psicoativas por indivíduos com TEA representa uma problemática que ultrapassa o campo individual, pois interfere na saúde mental, no funcionamento social e nas dinâmicas familiares. Ao compreender os riscos específicos dessa associação, torna-se possível avançar em propostas de intervenção mais eficazes e sensíveis às necessidades dessa população.
Referências
ABREU, A. P.; JORGE, M. R. Transtorno do Espectro Autista e comorbidades psiquiátricas: desafios e perspectivas. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, v. 44, n. 2, p. 120-129, 2022.
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
BOSA, C. A.; SIFUENTES, M. Transtorno do Espectro Autista: pesquisas e práticas baseadas em evidências. Porto Alegre: Artmed, 2020.
FOMBONNE, E. Epidemiology of pervasive developmental disorders. Pediatric Research, New York, v. 65, n. 6, p. 591-598, 2018.
SCHMIDT, C.; BOSA, C. A. Desafios familiares no contexto do autismo. Revista Psicologia em Estudo, Maringá, v. 22, n. 3, p. 451-460, 2017.
VOLKOW, N. D. et al. Neurobiologic advances from the brain disease model of addiction. New England Journal of Medicine, Boston, v. 374, n. 4, p. 363-371, 2016.