Setembro Amarelo e a Importância da Prevenção ao Suicídio no Brasil

08/09/2025

Setembro Amarelo e a Importância da Prevenção ao Suicídio no Brasil

Por Raique Almeida

            A campanha Setembro Amarelo surgiu com o objetivo de conscientizar a sociedade sobre a importância da prevenção ao suicídio, considerado um problema de saúde pública que atinge milhões de pessoas no mundo. No Brasil, o movimento foi instituído em 2015 pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), buscando dar visibilidade a um tema ainda permeado por estigmas e silêncios sociais (ABP, 2023). O suicídio é reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma das principais causas de morte entre jovens e adultos, representando cerca de 700 mil óbitos por ano no mundo (OMS, 2021).

            De acordo com Botega (2015), o suicídio é resultado de uma complexa interação de fatores psicológicos, biológicos, sociais e culturais, não podendo ser reduzido a uma única causa. Nesse sentido, campanhas de conscientização como o Setembro Amarelo atuam na desnaturalização do silêncio, possibilitando que indivíduos em sofrimento emocional busquem ajuda sem medo de julgamentos. Além disso, a iniciativa contribui para a disseminação de informações sobre os sinais de alerta, como isolamento, desesperança e alterações comportamentais, que podem indicar risco iminente (WERLANG; BOTEGA, 2014).

            A prevenção ao suicídio demanda ações integradas que envolvem família, escola, comunidade e instituições de saúde. Nesse processo, a escuta ativa e a valorização da fala do indivíduo desempenham papel central, uma vez que permitem a construção de vínculos de confiança capazes de fortalecer o desejo de viver (CASSORLA, 2010). Conforme apontam estudos de Werlang e Botega (2014), a comunicação aberta sobre sofrimento psíquico contribui para diminuir o tabu em torno do suicídio e para ampliar as estratégias de cuidado.

            Outro aspecto relevante é o impacto da pandemia de Covid-19, que intensificou os índices de adoecimento mental, revelando a urgência de políticas públicas voltadas ao acolhimento psicológico e à ampliação dos serviços de saúde mental. Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz, 2021), houve aumento significativo de sintomas de ansiedade e depressão entre a população brasileira, fatores que estão diretamente associados ao risco de suicídio. Essa realidade reforça a necessidade de fortalecer a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), garantindo acesso democrático e contínuo a tratamentos adequados.

            A mobilização do Setembro Amarelo, portanto, vai além de uma simples campanha. Ela simboliza um chamado coletivo à empatia, à responsabilidade social e ao compromisso com a vida. Ao oferecer informação, apoio e diálogo, é possível reduzir índices de suicídio e transformar a forma como a sociedade enxerga o sofrimento psíquico. Como destaca Botega (2015), falar sobre o suicídio não incentiva o ato, mas, ao contrário, abre caminhos para a prevenção e para a valorização da vida.

            Dessa forma, a campanha se estabelece como uma importante estratégia de saúde pública e como um espaço de construção social de esperança. O Setembro Amarelo deve ser compreendido não apenas como um mês de mobilização, mas como um marco para ações contínuas que promovam a dignidade humana, o cuidado e a escuta acolhedora. Prevenir o suicídio é, em última instância, um compromisso com a vida em sua plenitude.

Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA. Setembro Amarelo 2023: saiba mais sobre a campanha. Disponível em: https://www.setembroamarelo.com. Acesso em: 8 set. 2025.

BOTEGA, N. J. Crise suicida: avaliação e manejo. Porto Alegre: Artmed, 2015.

CASSORLA, R. M. S. (org.). Do suicídio: estudos brasileiros. Campinas: Papirus, 2010.

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Saúde mental e pandemia de Covid-19. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2021.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Suicide worldwide in 2019: global health estimates. Geneva: WHO, 2021.

WERLANG, B. S. G.; BOTEGA, N. J. Comportamento suicida. In: MARI, J. J. et al. (org.). Manual de Psiquiatria. São Paulo: Manole, 2014. p. 639-650.

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