Sono, Corpo e Mente: Cuidando do Ser Integral na Recuperação

08/07/2025

Sono, Corpo e Mente: Cuidando do Ser Integral na Recuperação

Por Raique Almeida

            A recuperação da dependência química demanda mais do que a interrupção do uso de substâncias. Ela exige uma abordagem integral, que considere as dimensões física, psíquica, emocional e espiritual do indivíduo. Essa concepção está em sintonia com o que aponta a Organização Mundial da Saúde (OMS), ao definir saúde como um “estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença” (OMS, 1946). Assim, o tratamento efetivo da dependência passa por cuidar do sono, do corpo e da mente como aspectos indissociáveis da saúde.

            Distúrbios do sono são comuns entre pessoas em recuperação, especialmente durante a abstinência, afetando o humor, a memória e a autorregulação emocional. Segundo Dalgalarrondo (2008), alterações do ciclo sono-vigília podem contribuir significativamente para quadros de ansiedade, depressão e risco de recaída.

            Estratégias como a higiene do sono, psicoterapia e a inserção de rotinas diárias contribuem para restaurar o equilíbrio fisiológico e emocional. A neurociência também evidencia que o sono é essencial para a consolidação de memórias e para a neuroplasticidade, elementos-chave na reestruturação cognitiva durante o processo de reabilitação (Purves et al., 2014).

            O corpo é diretamente afetado pelos efeitos tóxicos das drogas, que comprometem órgãos vitais, o sistema nervoso e o metabolismo. Cuidar da dimensão física implica em ações como uma alimentação equilibrada, hidratação, prática regular de atividades físicas e acompanhamento médico.

            A atividade física, segundo Ribeiro e Santos (2018), promove aumento da dopamina, serotonina e endorfina neurotransmissores diretamente relacionados à sensação de prazer e bem-estar, os mesmos afetados pelas substâncias psicoativas.

            A nutrição também é essencial nesse processo. A falta de nutrientes compromete a recuperação física e mental. De acordo com Volkow. (2003), uma alimentação balanceada auxilia na restauração do sistema nervoso central e fortalece a capacidade do organismo em lidar com o estresse da abstinência.

            A dependência química, muitas vezes, está atrelada a traumas, histórico de violências, transtornos mentais e contextos de vulnerabilidade social. O cuidado psicológico contínuo, aliado a abordagens como a terapia cognitivo-comportamental, o acolhimento em grupo e as práticas terapêuticas integrativas, é fundamental para a reconstrução da subjetividade.

            Segundo Carl Rogers (1997), um dos pilares do processo terapêutico é a aceitação incondicional e a escuta empática. O espaço terapêutico oferece um lugar de reconstrução identitária, onde o sujeito se reconhece além da dependência e começa a elaborar novas possibilidades de existência.

            O tratamento da dependência química precisa ser compreendido como um caminho de reconstrução do sujeito em sua totalidade. Segundo Boff (2003), cuidar é mais que um ato é uma atitude que envolve sensibilidade, empatia e compromisso com a vida do outro.

            Quando se oferece à pessoa em recuperação um ambiente terapêutico que valoriza seu sono, seu corpo e sua mente, estamos promovendo não apenas a cura, mas a possibilidade de uma nova existência mais livre, consciente e conectada consigo e com os outros.

Referências:

BOFF, Leonardo. Saber cuidar: Ética do humano, compaixão pela terra. Petrópolis: Vozes, 2003.

DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed, 2008.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Constituição da Organização Mundial da Saúde. 1946.

PURVES, Dale et al. Neurociências. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

RIBEIRO, Simone; SANTOS, Andréa. “Atividade física como parte do tratamento da dependência química”. Revista de Psicologia e Saúde, v. 10, n. 2, 2018.

ROGERS, Carl. Tornar-se Pessoa. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

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