Transtorno bipolar
06/06/2025
Por Raique Almeida
O artigo analisa as características clínicas, etiológicas e terapêuticas dessa condição, cuja manifestação se dá por episódios alternados de mania e depressão, marcados por uma ampla variação de intensidade e duração. Alda destaca que, embora a compreensão do transtorno bipolar tenha avançado significativamente nas últimas décadas, permanecem lacunas importantes em relação aos mecanismos exatos que levam à sua manifestação e às estratégias ideais para seu manejo a longo prazo.
O autor enfatiza que fatores genéticos exercem papel central na etiologia do transtorno bipolar, sendo este fortemente hereditário. Estudos com gêmeos, famílias e adoção indicam uma predisposição genética clara, embora os genes específicos envolvidos ainda não estejam completamente identificados. Alda aponta que há indícios consistentes de que alterações em determinados sistemas neurotransmissores, como a dopamina e a serotonina, também estejam implicadas na fisiopatologia do transtorno. Essas disfunções neuroquímicas, associadas a fatores ambientais e psicossociais, contribuem para a eclosão e recorrência dos episódios afetivos, o que torna o tratamento do transtorno um desafio multidimensional.
A importância da farmacoterapia é amplamente abordada no artigo, com destaque para o lítio como um dos estabilizadores de humor mais eficazes no tratamento e prevenção das recaídas. Alda observa que, apesar da eficácia comprovada do lítio, sua utilização requer monitoramento constante dos níveis séricos e atenção aos efeitos colaterais, o que pode limitar sua adesão em longo prazo. Além do lítio, anticonvulsivantes como o valproato e a carbamazepina são considerados alternativas viáveis, especialmente em pacientes que não respondem bem ao lítio ou que apresentam padrões específicos de episódios mistos ou ciclagem rápida. A abordagem farmacológica, no entanto, deve sempre ser acompanhada por intervenções psicoterapêuticas, suporte psicossocial e, em muitos casos, estratégias de reabilitação psicossocial para promover a estabilidade e a qualidade de vida do paciente.
Alda também ressalta a importância de um diagnóstico preciso e precoce do transtorno bipolar, visto que muitos pacientes inicialmente recebem diagnósticos equivocados de depressão unipolar, o que pode comprometer significativamente a escolha terapêutica e a evolução clínica. A identificação dos episódios de mania, especialmente quando apresentam sintomas atípicos ou são de intensidade leve, é crucial para o correto enquadramento diagnóstico. Além disso, o autor chama atenção para a frequência de comorbidades, como abuso de substâncias, transtornos de ansiedade e de personalidade, os quais complicam o curso do transtorno e requerem intervenções específicas.
Por fim, o artigo representa uma contribuição relevante para a literatura psiquiátrica ao reunir evidências científicas atualizadas, discutir implicações clínicas e apontar caminhos para pesquisas futuras. O transtorno bipolar, por sua complexidade e impacto funcional significativo, demanda uma abordagem terapêutica ampla, que envolva o paciente, a família e a rede de cuidados em saúde mental. A compreensão aprofundada de sua etiologia e de seus aspectos clínicos é fundamental para reduzir o sofrimento associado à doença e melhorar o prognóstico dos indivíduos acometidos.
Referência:
ALDA, Martin. Transtorno bipolar. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, v. 21, supl. 2, p. 15–18, out. 1999.
