Uso de Substâncias Psicoativas Em Indivíduos Com TDAH: Riscos, Consequências e Desafios Terapêuticos
10/09/2025

Por Raique Almeida
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurodesenvolvimental caracterizado por desatenção, impulsividade e, em alguns casos, hiperatividade, que afeta significativamente o funcionamento social, acadêmico e ocupacional do indivíduo (American Psychiatric Association, 2014). Estudos apontam que pessoas com TDAH apresentam maior vulnerabilidade ao uso de drogas, seja por fatores neurobiológicos, seja por tentativas de automedicação para reduzir sintomas de inquietação e desatenção (Faraone. 2021). A impulsividade característica do transtorno, associada a déficits na regulação emocional, aumenta o risco de comportamentos de busca por sensações e de uso precoce de substâncias psicoativas, como álcool, maconha e estimulantes ilícitos (Barkley. 2019).
Pesquisas indicam que indivíduos com TDAH têm maior probabilidade de desenvolver transtornos relacionados ao uso de substâncias (TRUS), e a comorbidade entre TDAH e dependência química está associada a pior prognóstico clínico, incluindo maior severidade do uso, dificuldade em manter abstinência e maior risco de recaídas (Wilens. 2018). Além disso, a presença do TDAH pode interferir na adesão ao tratamento das dependências, exigindo estratégias terapêuticas integradas que considerem tanto o manejo do transtorno quanto a prevenção do abuso de drogas.
Os mecanismos neurobiológicos também contribuem para essa vulnerabilidade. Alterações nos sistemas dopaminérgico e noradrenérgico, comuns em indivíduos com TDAH, podem reduzir a percepção de recompensa natural, levando à busca de substâncias que aumentem temporariamente os níveis de dopamina no cérebro (Volkow. 2017). Esse fenômeno explica, em parte, por que o abuso de drogas em pessoas com TDAH muitas vezes inicia-se na adolescência, período crítico de desenvolvimento cerebral e de maior exposição a estímulos de risco.
Do ponto de vista preventivo, a detecção precoce do TDAH e o tratamento adequado com intervenções farmacológicas e psicossociais podem reduzir significativamente a vulnerabilidade ao uso problemático de drogas (Biederman. 2019). Estratégias como acompanhamento multidisciplinar, educação sobre riscos do consumo de substâncias e desenvolvimento de habilidades de regulação emocional são essenciais para minimizar o impacto do TDAH no comportamento aditivo. Nesse sentido, compreender a interação entre TDAH e uso de drogas é fundamental para promover intervenções mais eficazes e personalizadas, bem como para reduzir o estigma associado à comorbidade e melhorar a qualidade de vida desses indivíduos.
Dessa forma, a literatura evidencia que o TDAH não apenas aumenta a predisposição ao uso de drogas, mas também complica a trajetória clínica do indivíduo, exigindo abordagens terapêuticas integradas que considerem aspectos neurobiológicos, comportamentais e sociais (Sibley. 2017). O reconhecimento da relação entre TDAH e vulnerabilidade ao uso de substâncias é, portanto, um passo crucial para políticas de prevenção e cuidado centradas nas necessidades específicas desse grupo.
Referências
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
BARKLEY, R. A. Attention-Deficit Hyperactivity Disorder: A Handbook for Diagnosis and Treatment. 4. ed. New York: Guilford Press, 2019.
BIEDERMAN, J. Pharmacotherapy of attention-deficit/hyperactivity disorder reduces risk for substance use disorder. Pediatrics, v. 144, n. 2, 2019.
FARAONE, S. V. et al. The pharmacology of ADHD and its role in preventing substance use disorders. Journal of Child Psychology and Psychiatry, v. 62, n. 4, p. 402-419, 2021.
SIBLEY, M. H. et al. Substance use in adolescents with ADHD: prevalence, patterns, and treatment implications. Journal of Attention Disorders, v. 21, n. 8, p. 653-667, 2017.
WILENS, T. E. et al. ADHD and substance use disorders: the complex interplay. Current Psychiatry Reports, v. 20, n. 10, 2018.
VOLKOW, N. D. et al. Neurobiologic advances from the brain disease model of addiction. New England Journal of Medicine, v. 374, n. 4, p. 363-371, 2017.